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​PROF. MANUEL JOAQUIM

Nascimento e infância


Manuel Joaquim de Castro e Vasconcellos nasceu a 27 de Maio de 1870, em Ponte do Lima. É filho de um médico local (proveniente de uma família proprietária de muitos terrenos em todo o alto-minho), o Dr. Daniel de Castro e Vasconcellos, e de Anne-Frid Frischmann, a abastada filha de um casal de comerciantes de cortumes alsacianos, que haviam fugido para Portugal por ocasião da guerra Franco-prussiana.
A sua mãe viria a morrer com tuberculose quando o pequeno Manuel tinha apenas 7 anos. Manuel tinha dois irmãos, fruto de um anterior casamento de seu pai: Anatólio era dezasseis anos mais velho do que ele e, apesar de uma perturbação mental (que não impediu que viesse a ser padre), foi uma das influências mais marcantes na sua infância; Agnes era dez anos mais velha, pouco se sabendo a seu respeito.
O seu pai foi um dos pioneiros da aviação portuguesa (era primo de Alberto Sanches de Castro, o primeiro piloto português, tendo sido igualmente um dos fundadores do Aero-Clube Português). Faleceu em 1912, quando o avião que tentava pilotar se despenhou perto de Vila Franca de Xira.

Instrução
 

Aos 8 anos, Manuel é enviado pelo seu pai para estudar no Colégio das Caldinhas (na altura, Colégio de Maria Santíssima Imaculada), permanecendo nessa Escola até ingressar em Direito, na Universidade de Coimbra, com 17 anos. É aí que conhece de perto Afonso Costa, então docente da cadeira de Direito das Colónias, e que mais tarde viria a ser Presidente da República. Fica em Coimbra durante três anos, desistindo por fim de estudar direito.
Em 1892 parte para Paris, onde já havia passado alguns meses aquando da Exposição Universal de 1889 (acontecimento que o despertou para a vida cosmopolita, e para uma diversidade cultural a que não estava acostumado). Estuda História e Filosofia na Sorbonne, conhece a vida boémia e priva, nos cafés e na academia, com algumas das figuras marcantes das artes e da cultura do final séc. XIX. Torna-se amigo pessoal de Erik Satie, de Georges Braque e em especial do etnólogo e diplomata haitiano (então, uma colónia francesa) Jean Price-Mars, um dos fundadores do movimento da Negritude. As suas ideias revelar-se-iam, a prazo, marcantes no pensamento e na vida de Manuel Joaquim.

Vida adulta
 

Conclui os seus estudos em 1899 e regressa a Portugal. Vem para o Porto, onde leva uma vida boémia para desalento do seu pai, que pretendia que ele administrasse as propriedades da família no Minho. Para se escapar a essa vida, Manuel Joaquim ruma a Lisboa e começa a trabalhar de perto com Leite de Vasconcelos, auxiliando-o nos trabalhos de investigação para a sua célebre obra Antroponímia Portuguesa. Entre 1902 e 1906, fixa residência na capital e aprofunda os seus conhecimentos sobre antropologia africana, cada vez mais a sua paixão.
Em Maio de 1906, parte para Luanda para administrar algumas propriedades da família e apercebe-se das condições de quase escravatura dos trabalhadores que o seu pai empregava nas plantações. A indisponibilidade demonstrada pelo pai para alterar esse estado de coisas precipitou um corte de relações entre ambos, levando Manuel Joaquim a renunciar ao nome de família e a apresentar-se, a partir de então, apenas com os seus nomes próprios. Em 1910, vai viver para o Porto, conseguindo (graças à influência do seu irmão Anatólio, que viria a falecer poucos meses mais tarde) trabalho como professor primário no Grande Colégio Universal, recém-inaugurado.
Em 1911, recebe durante uma longa temporada a visita do seu grande amigo Pascal Genghini, musicólogo francês que conhecera em Paris, autor do seminal compêndio EtnogÁfrique, e que renova o interesse de Manuel Joaquim pela tradição musical africana. Pascal, que enviuvara recentemente, faz-se acompanhar da sua filha Corinne, então com 14 anos, que se tornaria a partir de então o grande interesse amoroso de Manuel Joaquim.
Com a morte do pai, em 1912, Manuel Joaquim entra na posse de uma imensa fortuna e resolve, com o apoio e auxílio de Pascal, realizar um grande encontro musical etnográfico na cidade do Porto, que ficaria conhecido como Grande Sarau de Portugal. O evento juntaria, durante dois dias, artistas e conjuntos musicais de várias partes do mundo, para o que foram essenciais os contactos de Pascal em Paris. No entanto, alguns dias antes de o evento ter lugar, Manuel Joaquim confessa ao seu amigo a paixão que nutre pela sua filha Corinne, levando este, indignado, a abandonar prontamente a cidade com a sua filha. A história rapidamente se torna conhecida da sociedade portuense, que por esse motivo decide em peso boicotar o evento. O Sarau, que terá custado a Manuel Joaquim cerca de 1/3 da sua fortuna, foi presenciado por pouco mais de 100 espectadores (entre os quais, todavia, se contava Afonso Costa, então Presidente da República), sendo praticamente ignorado pela imprensa e tendo caído rapidamente no mais completo esquecimento – inclusivamente na própria cidade do Porto.
A tristeza que estes acontecimentos provocaram em Manuel Joaquim fez com que desaparecesse da vida de sociedade a partir de então.

Velhice e desaparecimento
 

Do final da vida do Prof. Manuel Joaquim, sabe-se apenas que em 1925 regressa ao solar dos pais em Ponte de Lima, anunciando que aí pretende passar o resto dos seus dias com a sua esposa Maria Amélia Valpaços e Sá. Contudo, no dia 27 de Maio de 1926 (data em que completava 56 anos) partiu para África num cargueiro, nada mais se sabendo da sua vida.

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